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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Balada gelada

Batem todos fortemente,
Na portada do meu país.
É gente cobiçosamente,
Passando à nossa frente
Como quem caça perdiz?

São ventos e forte aragem,
Pé ante pé, furtivamente.
Na espreita da derrapagem,
Para nos levar em viagem
Ao castigo dolorosamente...

Não batam mais Portugal,
Nessa arriba da “discrição”.
Nada se arrebita, que mal,
Que mais nos virá afinal
Pra afligir a nossa nação?

Tenho visto, temos lido,
Que são tempos gelados.
A névoa tapa-nos o vidro,
O tempo não é mais colorido
Somos uns nus isolados?

Fui ágil, animado limpar,
O gráfico embaciado...
São números para recear,
Um presente a abarrotar
De infortúnio encapotado?

Como será nosso marchar
Entre vidros estilhaçados?
Os filhos não sabem estar,
Não sabem que futuro acatar
Pois nós estamos sitiados...

Nós já estamos doridos,
Mas os jovens desditosos,
Dobrados e estendidos
Aos milhares já perdidos,
Serão eles criminosos?...

É uma amarga realidade,
E uma profunda decepção
Pois já estou nesta idade.
Volta a miséria a caridade,
Tomba triste meu coração!...

JOSÉ RODRIGUES (ZEAL)