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terça-feira, 18 de setembro de 2012

ANATOMIA DO ABSTRATO

Apetece sentar em frente a um espelho.
Produzir uma luz ambiente de sonho.
Tons quentes, ate reluzentes.. e eu.

Reflexo de area amarelecida pelo tempo.
Uma biblioteca, globo terrestre e gargulas.
Objectos de simbologia dubia, atraentes.
Um cadeirao de epoca, quase trono...
Um espelho onde a prata se esvai,
atraente no bafio que imita, descolada.
O veludo verde onde me sento, macio
os punhos com garras de leao douradas,
uma caveira de cristal, que me fita a alma.
Olho o meu outro eu... algo distorcido,
peremptorio e pleno da minha atitude.
Completamente nu, na extravagancia
do rei sentado, dirijo o discurso... a solo.
A anatomia do abstrato, uma peca sem palco.
Sem audiencia que nao eu proprio, receio.
O mais cruel critico e desconfortante
personagem, olha-me de frente... apatico.
Sem uma palavra que mova a feicao imovel,
descarrego cruelmente, as visoes surreais.
Gestos e alegorias, palavreado obsceno
que me acorde de mim proprio... uma lagrima.
A anatomia do abstrato, pertence-me por direito.
Envergonho-me do que nao digo, por pudor.
Descarrego o mundo na reflexao da minha imagem.
Mexo o direito com o verso... desatino.
Comunico em laivos de psicose apurada,
a loucura que absorvo, com olhos esbugalhados.
Nao compreendo o obvio. Estou invertido...
Como e estranha afinal a imagem...
Um local de sonho, na cor certa do tempo
mas o momento invertido da alma... doi.
A anatomia do abstrato absorve-me.
Afinal serei eu o espelho, e critico
a ambiguidade de estar vivo... e pensar.
Serei eu absolutamente inverso?
Serei eu apenas o meu reflexo?

  Carlos Lobato