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quinta-feira, 14 de abril de 2016

ABRAÇOS OCOS

Eram enormes os braços que me enlaçavam. Os teus sorrisos rasgados, nunca me faltaram. Era a Estrela Maior do teu Céu, houvesse alguém a contrariar. Uma confiança inviolável existia entre nós, como deve ser entre amigos. A tua vida nas minhas mãos, a minha vida nas tuas, pois então. Mas se a tal da amizade não for bem cimentada, não resiste às dúvidas, intrigas, maldade, falta de carácter e cobardia. E como a vida sempre nos dá boas lições, enviou um temporal que serviu de teste às ilusões. A Confiança foi atingida com uma paulada e não resistiu aos ferimentos. Recorrendo à Amizade para possível esclarecimento, recusou-me qualquer contacto, qualquer entendimento. Apenas fui culpada, julgada e condenada, sem direito a defesa. Apenas, disse eu. Vi-me sozinha perdida num mundo de interrogações, gritando com indignação aos quatro ventos, mas ninguém me respondeu. Absorta no meu desespero, ouvi um gargalhar que me soou a diversão. Com os olhos turvos avistei um Burro que se rebolava no chão de tanto gargalhar, parando de vez em quando para olhar para mim, sorrindo. Por momentos esqueci-me da raiva e fixei-me naquela figura que ousava rir-se do meu chorar, com tanta descontracção. Foi-se aproximando com ar ternurento e de repente vejo-me a sentir uma simpatia por um animal que sempre achei estranho, mas que afinal tinha uma beleza muito própria e uma doçura sem igual. Sentou-se à minha frente, lambeu-me as lágrimas e disse:
“Mais burros que os de 4 patas, são os de 2 patas que acreditam em contos de fadas. A amizade precisa de uma raiz profunda e saudável. Só assim saberemos que quando der frutos serão bons e que por mais forte que sejam os vendavais nunca a arrancarão da terra. Tudo o que nasce e cresce demasiado rápido e bonito, não tem qualidade, não tem consistência e morre ao primeiro abanão porque a beleza não alimenta corações. Estavas certa dos teus sentimentos, mas infelizmente não correspondidos. Alguém precisou fazer-te acreditar que sim, enquanto serviste para um fim.”
Ouvi sem perder uma única palavra e no final, nada consegui balbuciar. Tudo tem uma razão de ser. Umas vemos, outras só olhamos…e acabamos por nos perder! Mas nem tudo foi mau, ou perdas. Ganhei um novo amigo, daqueles que fazem questão de nos ter no seu peito e por mais forte que seja o vendaval, dele nada consegue arrancar e ainda nos enche de boa disposição….o Burro Gozão, mas com grande coração.


Helena Santos.