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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Um pedaço do paraíso

Seguraste a minha mão e sussurraste-me ao ouvido: vem, vou mostrar-te um pedaço do paraíso.
Do cimo da escarpa, a vista era deslumbrante e inesquecível.
Ao fundo, uma enseada abraçava uma língua de mar azul transparente que se fundia, na linha do horizonte, com o céu. A poucos metros da praia uma pequena ilha emergia, timidamente, das águas e dava guarida a um bando de gaivotas.

A brisa salgada afagava a costa e a maré respirava tranquilamente para não acordar o silêncio milenar das conchas.
O teu sorriso sedutor encorajou-me e desci contigo a tosca escadaria de pedra que conduzia à praia deserta, esquecida do mundo, onde o tempo parecia não existir.
As sombras projectadas nas areias douradas eram atravessadas por feixes de luz filtrados pelas brechas escavadas nas rochas que rodeavam a enseada.
Olhámo-nos demoradamente, extasiados pela magia deste momento único e arrebatador…
O brado das gaivotas suspendeu-se no ar quando, nus, mergulhámos no lençol azul do mar, os nossos corpos se fundiram e foram o pulsar da maré.
A vida oferece-nos raros instantes de pura emoção, que nos tocam a alma e guardamos em nós, na ilusão de um dia podermos regressar…
Hoje, voltei àquela praia paradisíaca, para sentir a tua presença, o fulgor dos teus olhos, a lava da tua boca, a centelha do teu corpo a incendiar todos os meus caminhos.
O mar desfolhava-se, em voz dorida, nas areias inanimadas, num entardecer melancólico enfeitado de frio.
Não importa se recordo o que nunca aconteceu…
Regressarei a este céu…essa é a minha maior certeza.
Quem sabe não estarás, um dia, a minha espera à porta do paraíso?

Clara Maria Barata