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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Vila Alice,
Luanda, Angola


Foi num dia 28 de um mês de verão,
do século vinte, Novembro, direi eu,
que a Vila Alice, numa tarde me acolheu,
com o calor e o seu grande coração.

Deslumbrou-me desde logo,

pela alegria estampada,
no rosto das gentes que ali habitavam!
Sem distinção de raças, todos comungavam
de uma paz que transpirava felicidade,
eram pessoas de alma aberta e gentil!
Ouviam-se pelas ruas, aos domingos,
as rádios soltando em acordes musicais,
a felicidade, que se vivia naquela terra,
especialmente naquele bairro,
de poetas e escritores,
que as suas ruas consagravam:
Almeida Garrett, Fernando Pessoa
Camilo Pessanha, Teixeira de Pascoais,
Antero de Quental, Alda Lara,
Eugénio de Castro e este, que dizia:

-“A fim, oculto amor, de coroar-te,

de adornar tuas tranças luminosas,
uma coroa teci de brancas rosas,
e fui pelo mundo afora, a procurar-te.”

E foi o que eu fiz,

fui pelo mundo, procurar-te Vila Alice,
de Acácias belas, que marginavam as ruas!
Não me viste nascer,
mas viste-me crescer
e tornar-me homem, de paixões,
conheceste os meus amores!

Foste o meu lar, o meu porto de abrigo

despertaste-me, bairro da minha poesia,
fizeste-me homem e foste meu amigo
deste à minha vida, sentido e alegria.

Vila Alice era por excelência, um bairro

que primava pela simplicidade,
onde a honestidade e amizade se abraçavam!

Hoje, Vila Alice, por ti, meu coração chora a saudade

que a minha alma teima em não apagar!

José Carlos Moutinho