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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Gaivota...

Pousada no mastro da caravela, olhava em redor e ficava fascinada. Aquele céu azul, aquele mar poderoso faziam-me esgueirar do bando, sempre que podia. Gostava de estar ali, sozinha, onde em silêncio podia apreciar a força e a beleza do oceano. Sem pressa nem compromissos, abria as asas e voava pelo simples prazer de voar. Queria engrandecer a alma, não viver em vão. Engrandecer a alma... que presunção, até mesmo achar que tinha uma... Longe de olhares, acariciada pela brisa morna das tardes primaveris, rodopiava intercalando voos ingremes com descidas vertiginosas. Adorava aquela sensação prazerosa, aquele borboletar no estômago, o cheiro a mar, a liberdade de pairar ao vento. Refugiava-me ali, longe do alarido mundano. Lia histórias nos livros que imaginava escrever. Gostava de ser gaivota, mesmo sendo frágil era livre, sim, digamos que um pouco diferente do comum, gostava de sonhar mas para além disso gostava de viver no sonho. O ambiente era propício. Estrelas do mar, algas coloridas, corais, raios de sol e azul, muito azul, aquele que pintava quimeras, nas quais gostava de me perder. Mas o tempo era breve. O dia terminava e o azul dava lugar a tons laranja, tons quentes que se refletiam nos meus olhos. Transpunha para o meu diário, na fímbria da tarde, a poesia cinzelada em mim. Pousada no gurupés, assistia ao despedir de mais um dia. Permanecia ali, embevecida, até o céu se matizar de estrelas esplendorosas, cúmplices da noite. A lua convidava-me a regressar na manhã seguinte. Não sabia se voltava, embora desejasse muito, sabia sim que tinha sido mais um dia de sonho.


Cecília Vilas Boas