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sexta-feira, 8 de julho de 2016

NÃO SINTO A VIDA

Não sinto a vida com tanta empolgação como devia. Talvez por ela já nada me dizer, ou simplesmente por eu já não a achar interessante. Aliás, acho-a cada dia mais entediante, sem graça, apagada, sem nada que faça com que tenha vontade de acordar no dia seguinte e olhá-la. Nunca fui de perder batalhas, nem temer guerras, mas estou a perder a emoção pelas guerras impostas pela vida. Será por eu estar a perder vida, ou por estar a perder-me da vida? O céu tem cada vez mais nuvens escuras, as noites têm menos estrelas a brilhar, a lua já nem no mar se quer deitar. E eu, só sei que aqui não quero continuar. O sol incomoda-me, encadeia-me a alma e a sua intensidade fere-me e pele. Já não o suporto, já não o tolero e nem com seus malefícios me importo. Simplesmente o ignoro. Até o mar que sempre viveu em mim, ou eu vivi dele, de repente deixou de ser importante. Mas dele ainda não desisti…. Bebo da sua doçura, saboreia a sua calmaria, absorvo a sua sabedoria e até me congratulo com a sua revolta. Gosto dele, que importa! Sei que é uma fonte inesgotável e por mais que o sugue, não o seco. Visito-o quase diariamente. Nem sei bem o que lá vou buscar ou deixar, mas sei que com ele sinto-me protegida, confiante. Já são tão poucas as coisas que me fazem sentir bem, que dificilmente continuarei refém da vida por mais tempo. São dias e mais dias. Uns correm, outros andam, mas nenhum se preocupa em saber se alguém, por alguma razão, não os consegue acompanhar. Eles apenas querem o céu alcançar, custe o que custar. E se ao passarem, alguém pisarem, não param para olhar para trás, para ajudar. Assim são os dias que todos nós engordamos, com as nossas fantasias, egoísmos, maldades e vazios. Mas que raio de vida esta, que engole dias e não se preocupa como nós estamos? As minhas forças já quase que não as vejo, mas ainda moramos no mesmo corpo. A minha vontade era perder a vontade de fazer fosse o que fosse, sem vontade. Há quem durma apavorado com a hipótese de não acordar para o novo dia brindar; eu adormeço a rezar para que Deus não permita que dos meus sonhos venha a despertar. Como a vida rapidamente perde o sentido, quando perdemos algo que para nós fazia todo o sentido e logo deixa de fazer sentido, o sentido que a vida tinha. Olho ao meu redor e só vejo sombras de mim, sem terem qualquer fim, e pergunto-me: o que faço eu aqui parada, se por mais que me esforce, não consigo antever uma estrada que me leve a um destino que me faça chegar à conclusão que afinal a vida até tem graça? Mas o engraçado é que eu acho graça à vida, mas não no sentido de a querer bem e viver eternamente, como qualquer mortal pretende. Acho-lhe graça, porque ela sabe que nunca lhe implorarei que me deixe viver anos sem fim. Ela também sabe que eu decidirei quando, onde e de que forma terminarei a minha viagem. A ela nunca pedirei opinião, nunca precisarei de um sim ou de um não, bastará a minha decisão. Esta vida está um caos, eu cansei-me de confusão e de mendigar por migalhas de atenção, consideração e humanização!

Helena Santos