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domingo, 29 de novembro de 2015

BORDADO A FIOS DE LUZ.

Querendo surpreender o meu amor, que se mostrava um pouco ausente, decidi bordar o meu coração a fios de Luz com sentimentos variados e enviar como presente. Que melhor prenda lhe poderia dar? Que melhor prova de amor poderia ele receber? Isso foi só o que eu pensei, esperando que ele percebesse a minha mensagem. Usei fios de Luz impregnados de amor, paixão, tolerância, compreensão, harmonia e alegria. Devemos alimentar a alma com ingredientes saudáveis e que nos façam ver a vida de uma perspectiva mais positiva. Mas senti que faltava algo para dar um toque especial ao meu bordado, de modo a que a rejeição ficasse fora de questão. Então, juntei perdão, diálogo, justiça, lealdade, simplicidade, humildade e paz. Assim, sim…estava mais apetecível. Não sabia bordar, mas pelo meu amor tudo faria, até os dedos picar. E tanto me piquei! Olhei para a obra finalizada e fiquei encantada. O amor faz milagres. Envolvi-o em linho puro, devido à sua delicadeza e sensibilidade, não queria que sofresse qualquer arranhão. Mas faltava uma caixinha para ficar bem acondicionado e não se danificar na deslocação. Sendo um presente de amor, foi fácil a solução para uma caixinha de emoção. Juntei igual porção de beijos, abraços e saudades e construí uma caixinha de sonho. Com todo o cuidado de que fui capaz, meti o coração na caixa e fechei-a. Para selá-la e embelezá-la ainda mais, usei uma fita de seda pura com a cor vermelha da paixão e um enorme laçarote, pois então. O presente estava pronto a ser entregue ao destinatário. Mas a quem poderia eu incumbir tal tarefa? Perdida nos meus pensamentos e esperando que o horizonte me enviasse alguma resposta, fui despertada por um sopro de vento que abanou a minha janela e para mim olhou. De repente, senti que seria ele o mensageiro ideal para tão valiosa missão e de cariz urgente. A primeira reacção foi declinar o pedido, mas quando se apercebeu da minha aflição, aceitou só por se tratar de uma prova de amor. Entregar o presente e uma resposta trazer, era o que tinha de fazer. E sem demoras, voou. Ele voltou, o presente ficou, mas a resposta não chegou. Que angústia me provocou. Que teria acontecido? Será que me tinha esquecido do seu ingrediente favorito? Nada melhor que perguntar pessoalmente. Se pensei, mais rápido o fiz. O vento que por ali ficou, logo se prontificou a levar-me onde eu quis. Cheguei sem ser convidada e fui recebida com olhar distante e boca fechada. O meu coração estava na sua mão e o que me intrigou, foi ver como o segurava, com o maior cuidado, ternura e atenção. Perguntei o que o atormentava, mas não me explicou. Disse-lhe que o meu coração bordado a Luz, era uma prova de amor, visto nem saber bordar e ter ficado com os dedos todos picados, mas que ainda assim não me tinha importado. Ouviu, mas não se manifestou, como se nada tivesse significado. Doeu-me, mas senti que o que desejava, ali não iria encontrar, não naquele dia. Decidi regressar. O coração não mo devolveu, mas se o tinha oferecido, passou a ser seu. Para que o queria ele? Pensei mas não perguntei. Assim que as costas virei, disse-me que do bordado tinha gostado, mas que para além do meu coração, precisava de tempo, para o seu arrumar e que o aguardasse com carinho porque iria voltar…. E desapareceu.
Regressei e a única coisa que trouxe, foi a Esperança…porque o amanhã é sempre longe. E o amor…ai o amor, será que alguém o sabe decifrar? Mas se é o meu amor e pediu para por ele esperar…eu vou esperar. Até quando? Não importa, o amor não tem prazo de validade e a verdade, é que eu estou tomada pela saudade!

Helena Santos